quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

A IDENTIDADE DO TRAIDOR

O traidor de Cristo era chamado de Judas de Queriote (Kriyot) ou "de Cariote", ou seja, Iscariotes. Queriote era o nome de uma localidade situada a 20 Km ao sul de Hebrom (atuais ruínas de el-Kureitein), portanto, ele foi o único discípulo não natural da Galiléia. Era sobrenomeado de “Iscariotes” para ser diferenciado de outros apóstolos (Judas Tadeu e Judas Tomé), e demais homônimos íntimos do grupo encabeçado por Jesus. Judas também era identificado como “filho de (um certo) Simão”, como atestou João (6,71, com adição).

Através da revelação espírita, a exemplo do Espírito Emmanuel, pela mediunidade de Francisco Cândido Xavier, em Há Dois Mil Anos (FEB), sabemos que era um homem de natureza mesquinha, ávido por dinheiro e poder. Responsável pela coleta de esmolas do grupo (tesoureiro), prática comum aos pregadores da época, a fim de custear as viagens. Infelizmente, Judas preocupava-se mais em angariar “tesouros terrenos, do que celestiais” (sobre essa frase, ver Mateus 6,19-21).

Suas limitações morais levaram-no a revoltar-se contra o pacifismo do Mestre. Entregou-O, inocentemente, às autoridades farisaicas, a fim de instigar a revolta popular armada contra o governo herodiano, vassalo dos romanos. O acordo secreto que fizera com os fariseus garantia a partilha do poder político com ele e demais aliados, além, é claro, da libertação de seu amigo Jesus. Ao ver-se ludibriado, não suportou o remorso e supliciou-se na forca.

Porém o Iscariotes ocultava dos olhos humanos seu incrível potencial de missionário cristão, pois NÃO FOI POR ACASO que Jesus o convocou ao apostolado (algo, aliás, acertado entre os dois desde muito antes da reencarnação de Judas, no Além).

Pergunta-se, “por que Jesus chamou ao apostolado um homem imperfeito como Judas?” Ora, como Ele mesmo disse, não necessitam de médico os que estão sãos, mas, sim, os que estão enfermos (Lucas 5,31). Não havia homens perfeitos, exatamente iguais ao Cristo, entre os Apóstolos, apenas bem intencionados, “carvões brutos que um dia seriam diamantes”.

O Rabi incumbiu Judas à coleta de esmolas, para que, com o auxílio dos ensinamentos e exemplos na prática do Bem, o discípulo combatesse e vencesse o vício da ganância. Não há mérito àquele que, para não cair em pecado, vive longe do pecado, ou seja, apenas em contemplação. Jesus andava entre os “sujos”, sem “sujar-se”.

Cristo, provavelmente, seria morto COM OU SEM a traição de Judas, pois viveu em uma época extremamente violenta, dominada por déspotas sanguinários. Portanto, Judas nunca foi o vil instrumento da imolação do Cordeiro de Deus.

O Iscariotes foi especialmente escolhido pela Providência,  o exemplo-mor do mortal que pode cair e depois levantar-se; pode morrer e ressuscitar moralmente (como veremos mais adiante). Judas, assim como os demais Apóstolos, poderia ter sido um de nós, porque para tornar-se “santo” não basta ter o dom, deve-se merecer a entrada no Reino de Deus.

Jesus sabia que seria traído por Judas Iscariotes, sempre soube. Porém, escolheu o discípulo natural de Queriote pelo motivo de Judas ter tido um grande potencial para ser apóstolo (o Mestre cumpriu o acordo firmado entre os dois, e demais seguidores, antes de nascerem, no Além), e por respeitar o livre arbítrio do Iscariotes, que poderia, se quisesse, não trair o Mestre. Ou seja, a traição de Jesus - somente através de Judas - nunca foi, em essência, um destino inexorável (pensamento de herança grega, vide, por exemplo, as tragédias de Édipo). Entretanto, tal traição, como diversos aspectos da vida do Cristo, foram previstos por alguns médiuns das Escrituras (profetas hebreus do Antigo Testamento ou do período pré-cristão, além de João Batista, contemporâneo de Jesus).

Por isso, nós espíritas, repudiamos a tradição popular da Malhação de Judas, pois, além de incentivar a violência, indica que podemos estar dirigindo agressões a qualquer um de nós

Fonte: http://jensoares.blogspot.com.br/.

JOANA D’ARC REENCARNAÇÃO DE JUDAS ISCARIOTES



Depois do ato de suicido de Judas Iscariotes, e tendo passado pouco tempo no vale dos suicidas, ele estando com o espírito profundamente perturbado e enlouquecido, recebeu a visita de Jesus, que permaneceu três dias ao seu lado até que ele adormecesse; só depois desse gesto de amor e de perdão é que Jesus apareceu materializado a Maria Madalena, segundo o Evangelho de João (20: 11 a 18).


Judas obteve a oportunidade de reencarnar diversas vezes na Terra e a sua última reencarnação foi como Joana D'arc, a sua última prova, para resgatar seus débitos para com a sua própria consciência, e se tornar um espírito livre.

Como Joana D'Arc, aos 13 anos de idade começou a ter visões de São Miguel que falava-lhe sobre umas novas aparições, que seria as de Santa Catarina e Santa Margarida que viriam em nome de Deus para cumprirem uma missão, e dar as ordens a Joana D'arc para liderar a França na Guerra dos Cem Anos contra a Inglaterra, como já sabemos. Depois da vitória da França, Joana foi injustamente condenada por bruxaria, heresia e por blasfêmia, por receber tais mensagens, assim considerada bruxa ela foi levada pela Inquisição, onde queimou e sofreu seus últimos instantes na Terra. Ao desencarnar ela se encontrou com Santa Catarina e Santa Margarida, que lhe disseram que Jesus estava pela sua espera há muito tempo. 



Quanto à questão da incompatibilidade dos sexos entre Judas Iscariotes e Joana d'Arc, os Espíritos mentores há tempos esclareceram a questão, através da coordenação kardequiana:

[Pergunta] 201 - O Espírito que animou o corpo de um homem pode, em uma nova existência, animar o de uma mulher e vice-versa?

[Resposta] – Sim, são os mesmos Espíritos que animam os homens e as mulheres.

[Pergunta] 202 – Quando está na erraticidade [Além], o Espírito prefere encarnar no corpo de um homem ou de uma mulher?

[Resposta] – Isso pouco importa ao Espírito. Depende das provas que deve suportar.

[Observação de Kardec] – Os Espíritos encarnam como homens ou mulheres, porque não têm sexo. Como devem progredir em tudo, cada sexo, assim como cada posição social, lhes oferece provas, deveres especiais e a ocasião de adquirir experiência. Aquele que encarnasse sempre como homem apenas saberia o que sabem os homens.


[KARDEC, Allan. Livro dos espíritos. Trad. Renata Barboza da Silva, Simone T. N. Bele da Silva. São Paulo: Petit, 1999, pp.104-5, com adições]

Na primeira década do século XX, Léon Denis - patrício e sucessor de Allan Kardec no desenvolvimento e divulgação da Doutrina Espírita - semelhante à "médium-santa" Helena, indicando os lugares de peregrinação na Terra Santa, percorreu sítios frequentados por Joana d’Arc, no coração da França, realizou pesquisas bibliográficas e revelou ao mundo mensagens autênticas da Virgem Guerreira, a fim de compor uma biografia, sob a visão espírita: Joana d'Arc: médium.



Procurou também resgatar a memória de Joana junto aos compatriotas ingratos, pois muitos, incrédulos e materialistas, consideram-na uma grande farsa histórica.

Léon Denis, que além de estudioso era médium ostensivo, sentiu a presença do Espírito Joana d'Arc antes e durante a concepção do livro:

... voltando-lhe ardente simpatia, consagrando-lhe terna veneração e vivo reconhecimento, escrevi este livro. Concebi-o em horas de recolhimento, longe das agitações do mundo. [...] vindo do Alto, um raio de luz me ilumina todo o ser e esse raio emana do Espírito de Joana. Foi ele quem me esclareceu e guiou na minha tarefa.

[DENIS, p. 313].

Denis documentou a aparência "máscula" de Joana, no cárcere (para não atiçar os desejos dos homens), além da coragem e alta habilidade bélica no campo de batalha, que ... não consentia em abandonar as vestes masculinas e este ato de pudor lhe era profligado como um crime! [idem, p.124].


O retrato mais antigo de Joana d'Arc foi pintado por volta de 1485, ou seja, cerca de 50 anos após sua morte. Pinturas suas contemporâneas não sobreviveram ao tempo.

Diversos relatos, da época, ressaltam seus traços delicados e belos de mulher muito jovem, no entanto, durante sua vida militar, vestia-se como soldado, para não diferenciar-se dos companheiros, inclusive quanto ao corte de cabelo: ... "eram pretos e cortados curtos em escudela, de maneira a formarem na cabeça uma espécie de calota, semelhante a um tecido de seda escura." [p. 242].



Retratos (atuais) mais próximos da realidade sobre a aparência de Joana d'Arc.

Denis, quanto ao gênero ou sexo de Joana, ainda acrescenta:

Uma questão aqui se impõe. Por que escolheu Deus a mão de uma mulher para tirar a França do túmulo? [...] Seria [...] porque a mulher é superior ao homem pelos sentimentos, pela piedade, pela ternura, pelo entusiasmo? Sim, sem dúvida, e aí está o segredo da abnegação da mulher, de seu espírito de sacrifício.

[...]

Porém, a tal escolha presidiu razão de ordem mais elevada. Se Deus, aquilatando da fraqueza dos fortes e da prudência dos avisados, preferiu salvar a França por intermédio de uma mulher, de uma menina, quase uma criança, foi, sobretudo, para que, comparando a fragilidade do instrumento com a grandeza do resultado, o homem não mais duvidasse; foi para que visse claramente, nessa obra de salvação, o efeito de uma vontade superior, a intervenção da potência eterna.

[pp. 228-9]


Fonte: http://jardim-espirita.blogspot.com.br - http://jensoares.blogspot.com.br/

ENTREVISTA COM JUDAS ISCARIOTES POR HUMBERTO DE CAMPOS

O consagrado escritor Humberto de Campos encontra em Jerusalém, às margens do Jordão, o até hoje incompreendido Judas Iscariotes. Com ele conversa sobre a condenação de Jesus e realiza esclarecedora entrevista, ditada a Chico Xavier, em Pedro Leopoldo, em 19 de abril de 1935. Leiamo-la.
Nas margens caladas do Jordão, não longe talvez do lugar sagrado, onde o Precursor batizou Jesus Cristo, divisei um homem sentado sobre uma pedra. De sua expressão fisionômica irradiava-se uma simpatia cativante.
- Sabe quem é este? - murmurou alguém aos meus ouvidos. - Este é Judas.
- Judas?!...
- Sim. Os espíritos apreciam, às vezes, não obstante o progresso que já alcançaram, volver atrás, visitando os sítios onde se engrandeceram ou prevaricaram, sentindo-se momentaneamente transportados aos tempos idos. Então mergulham o pensamento no passado, regressando ao presente, dispostos ao heroísmo necessário do futuro. Judas costuma vir a Terra, nos dias em que se comemora a Paixão de Nosso Senhor, meditando nos seus atos de antanho...
Aquela figura de homem magnetizava-me. Eu não estou ainda livre da curiosidade do repórter, mas entre as minhas maldades de pecador e a perfeição de Judas existia um abismo. O meu atrevimento, porém, e a santa humildade do seu coração ligaram-se para que eu o atravessasse, procurando ouvi-lo.
- O senhor é, de fato, o ex-filho de Iscariotes? - perguntei.
- Sim, sou Judas - respondeu aquele homem triste, enxugando uma lágrima nas dobras de sua longa túnica.
Como o Jeremias, das Lamentações, contemplo às vezes esta Jerusalém arruinada, meditando no juízo dos homens transitórios...
- E uma verdade tudo quanto reza o Novo Testamento com respeito à sua personalidade na tragédia da condenação de Jesus?
- Em parte... Os escribas que redigiram os evangelhos não atenderam às circunstâncias e as tricas políticas que acima dos meus atos predominaram na nefanda crucificação. Pôncio Pilotos e o tetrarca da Galiléia, além dos seus interesses individuais na questão, tinham ainda a seu cargo salvaguardar os interesses do Estado romano, empenhado em satisfazer as aspirações religiosas dos anciãos judeus. Sempre a mesma história. O Sanedrim desejava o reino do céu pelejando por Jeová, a ferro e fogo; Roma queria o reino da Terra. Jesus estava entre essas forças antagônicas com a sua pureza imaculada. Ora, eu era um dos apaixonados pelas idéias socialistas do Mestre, porém o meu excessivo zelo pela doutrina me fez sacrificar o seu fundador. Acima dos corações, eu via a política, única arma com a qual poderia triunfar e Jesus não obteria nenhuma vitória. Com as suas teorias nunca poderia conquistar as rédeas do poder, já que, no seu manto e pobre, se sentia possuído de um santo horror à propriedade. Planejei então uma revolta surda como se projeta hoje em dia na Terra a queda de um chefe de Estado. O Mestre passaria a um plano secundário e eu arranjaria colaboradores para uma obra vasta e enérgica como a que fez mais tarde Constantino Primeiro, o Grande, depois de vencer Maxêncio às portas de Roma, o que, aliás, apenas serviu para desvirtuar o Cristianismo. Entregando, pois, o Mestre, a Caifás, não julguei que as coisas atingissem um fim tão lamentável e, ralado de remorsos, presumi que o suicídio era a única maneira de me redimir aos seus olhos.
- E chegou a salvar-se pelo arrependimento?
- Não. Não consegui. O remorso é uma força preliminar para os trabalhos reparadores. Depois da minha morte trágica, submergi-me em séculos de sofrimento expiatório da minha falta. Sofri horrores nas perseguições infligidas em Roma aos adeptos da doutrina de Jesus, e as minhas provas culminaram em uma fogueira inquisitorial, onde, imitando o Mestre, fui traído, vendido e usurpado. Vítima da felonia e da traição, deixei na Terra os derradeiros resquícios do meu crime, na Europa do século XV Desde esse dia, em que me entreguei por amor do Cristo a todos os tormentos e infâmias que me aviltavam, com resignação e piedade pelos meus verdugos, fechei o ciclo das minhas dolorosas reencarnações na Terra, sentindo na fronte o ósculo de perdão da minha própria consciência...
- E está hoje meditando nos dias que se foram... - pensei com tristeza.
- Sim... estou recapitulando os fatos como se passaram. E agora, irmanado com Ele, que se acha no seu luminoso Reino das Alturas que ainda não é deste mundo, sinto nestas estradas o sinal de seus divinos passos. Vejo-O ainda na cruz entregando a Deus o seu destino... Sinto a clamorosa injustiça dos companheiros que O abandonaram inteiramente e me vem uma recordação carinhosa das poucas mulheres que O ampararam no doloroso transe... Em todas as homenagens a Ele prestadas, eu sou sempre a figura repugnante do traidor... Olho complacentemente os que me acusam sem refletir se podem atirar a primeira pedra... Sobre o meu nome pesa a maldição milenária, como sobre estes sítios cheios de miséria e de infortúnio. Pessoalmente, porém, estou saciado de justiça, porque já fui absolvido pela minha consciência no tribunal dos suplícios redentores.
Quanto ao Divino Mestre - continuou Judas com os seus prantos - infinita é a sua misericórdia e não só para comigo, porque, se recebi trinta moedas, vendendo-O aos seus algozes, há muitos séculos Ele está sendo criminosamente vendido no mundo a grosso e a retalho, por todos os preços, em todos os padrões do ouro amoedado...
- E verdade - concluí - e os novos negociadores do Cristo não se enforcam depois de vendê-LO.
Judas afastou-se tomando a direção do Santo Sepulcro e eu, confundido nas sombras invisíveis para o mundo, vi que no céu brilhavam algumas estrelas sobre as nuvens pardacentas e tristes, enquanto o Jordão rolava na sua quietude como um lençol de águas mortas, procurando um mar morto.

Fonte: Aliança Espirita

O JUDAS SEGUNDO O ESPIRITISMO

Na dobra dos séculos, ele continua sendo apontado como alguém que destoou no Colégio Apostólico, exemplo de mau amigo, traidor. Ainda na atualidade, o seu nome é dado aos que traem uma causa, aos que erguem a mão contra quem os brindou com amizade.

Dentre os doze apóstolos, parece ter sido o único que não era galileu. Filho de Simão, era da cidade de Cariote ou Kerioth, "cidade do extremo sul da tribo de Judá, a uma jornada além do Hebron." (3)

Em Cafarnaum, Judas, comumente denominado, Judas Iscariotes, o que equivale a dizer, Judas, de Kerioth, sua localidade de nascimento, se consagrava ao pequeno comércio, vendendo peixes e quinquilharias.

Entendia de contabilidade, e se transformou no tesoureiro do grupo. Era quem cuidava da bolsa das ofertas. Quem lhe analise a personalidade, o qualifica como culto, eloqüente e polido. Também alegre e um homem realizado.

Destacam-se nele, igualmente, qualidades como discrição e sensatez. Com certeza, um homem prático. Sua cabeça era de um comerciante. Seu negócio era adquirir, revender e contar os lucros.

"Imediatista, considerava as pessoas e ocorrências através da óptica distorcida da realidade, pelo valor relativo, amoedado, social, transitório, não real. (...)" (2)

Foi exatamente sob essa tônica, que ele expôs o Amigo Celeste. Judas tinha ambição, fascinação pelas riquezas, preocupações com a vida material. Não conseguiu apreender o sentido da missão do Grande Amigo.

Para ele, o carpinteiro de Nazaré era o Messias, aguardado há séculos por Israel, sofrida e à época, escrava da águia romana dominadora. O poder de Jesus, Seus discursos, Sua inteligência e Seus milagres o fascinavam.

No Evangelho de João (12:6), encontramos uma referência à sua desonestidade, referindo o evangelista que "tendo a bolsa, roubava o que se lançava nela."

Segundo as lições espirituais, Jesus o teria advertido, ao início do apostolado: "...Judas, a bolsa é pequenina; contudo, permita Deus que nunca sucumbas ao seu peso!" (6)

Sua é a voz primeira que sussurra acerca do desperdício, em casa de Simão, o ex-leproso, durante o banquete em que Maria, de Betânia, oferece ao Amor não amado, o caro perfume, ungindo-Lhe os cabelos. Servindo-se do momento para o ensino, Jesus recorda da pérola da amizade e da preciosidade da manifestação afetiva, alertando sobre a precariedade das coisas temporais.

Acompanhando o Rabi, dia após dia, registrando-Lhe a grandeza, alimenta o filho de Simão a idéia de que, dia chegará em que Ele assumirá o poder, liderando uma grande revolução, esmagando Roma. Não conseguira entender que a maior revolução que o doce Rabi propunha era contra o inimigo interior.

Após a triunfal entrada do Amigo em Jerusalém, Judas imaginou que melhor momento não haveria do que aquele para que Ele inaugurasse o Seu Reino.

No entanto, sequer sorrira Jesus, nem retribuíra com acenos ou um inflamado discurso à extraordinária recepção, que o povo lhe oferecia. Aquela maré humana entrou por um dos grandes portais da muralha do Templo e se derramou para o interior da extensa área do átrio dos gentios, ao átrio do povo e dos sacerdotes.

E quem ouvisse os brados de Hosana ao Filho de Davi! Hosana! acorria para ver quem seria a personagem que assim estaria sendo ovacionada. Quem seria alvo de tão deslumbrante manifestação?

Os fariseus ficaram indignados e mais recrudesceu o ódio contra o Galileu. Os sacerdotes devem ter tremido, temendo, mais que nunca, perder o cargo e seus privilégios. Decretava-se, ali, a urgência da sentença de morte do Filho de Nazaré.

Contudo, enquanto Judas aguarda que Ele tome uma atitude, o Mestre se retira da cidade, ao anoitecer e se dirige a Betânia, onde costumava passar a noite.

O discípulo se inquieta. Sob seu ponto de vista, Jesus não sabe aproveitar as oportunidades, nem se preocupa em conquistar a atenção dos homens mais altamente colocados na vida.

Gozando da amizade de políticos influentes em Jerusalém, Judas decide propor um acordo para apressar o triunfo do Messias. Arquiteta entregá-lO aos homens do poder temporal, "em troca de sua nomeação oficial para dirigir a atividade dos companheiros. Teria autoridade e privilégios políticos. Satisfaria às suas ambições, aparentemente justas, com o fim de organizar a vitória cristã no seio de seu povo.

Depois de atingir o alto cargo com que contava, libertaria Jesus e lhe dirigiria os dons espirituais, de modo a utilizá-los para a conversão de seus amigos e protetores prestigiosos." (7)

Quando a alvorada se fez, o discípulo imprevidente se dirigiu ao Sinédrio. Aguardou horas, mas muitas promessas lhe foram feitas. Guardou as 30 moedas, nem mesmo sabia porquê. Afinal, logo mais, ele teria as rédeas do movimento renovador. Era uma quantia pequena para o que idealizava. Nada além do preço de um escravo: trinta moedas de prata.

Com um beijo entrega o Amigo a quem amava, sem O compreender. Aterrorizado, viu seu Mestre ser conduzido à cruz, sem nenhum lamento, sem nenhuma queixa.

Dando-se conta do equívoco, busca Caifás, reclamando o cumprimento do acordo. Somente recebe dele e dos demais membros do Sinédrio sorrisos de sarcasmo. Recorre às suas relações de amizade e teve que reconhecer a fragilidade das promessas humanas.

De longe, Judas contemplou as cenas humilhantes e angustiosas do drama do Gólgota. O remorso o abraça, dilacerando-lhe a consciência.

Um pensamento o toma. Sem amigos, traidor vil que entrega o Amigo querido, da forma mais ignominiosa, ele somente pensa em desertar da vida. Naquele momento, não se recordou das exortações acerca da prece, da comunhão com o Pai, do perdão lecionado tantas vezes pelo Nazareno.

Ele somente escuta a voz tenebrosa de seu tremendo remorso e, dirigindo-se à rampa do vale de Hinom, compõe o laço em torno do pescoço e se deixa pender, vencido pela dor, ingressando no mundo espiritual, atormentado e sofredor.

Conta-se que, tendo devolvido aos sacerdotes o dinheiro vil, entenderam eles que aquele era "preço de sangue" e não seria lícito retorná-lo aos cofres do Templo. Assim, adquiriram um campo para servir de cemitério a estrangeiros e peregrinos que morressem em Jerusalém.O local ficou conhecido como "campo de sangue" e, segundo alguns, Judas teria sido o primeiro a ser ali sepultado.

Na seqüência dos anos, ele expiaria sua tenebrosa falta. Em entrevista que concede ao espírito Irmão X, assim narra a sua trajetória de redenção: "Depois de minha morte trágica, submergi-me em séculos de sofrimento expiatório da minha falta. Sofri horrores nas perseguições infligidas em Roma aos adeptos da doutrina de Jesus e as minhas provas culminaram em uma fogueira inquisitorial, onde, imitando o Mestre, fui traído, vendido e usurpado. Vítima da felonia e da traição, deixei na Terra os derradeiros resquícios do meu crime, na Europa do século XV.

Desde esse dia em que me entreguei por amor do Cristo a todos os tormentos e infâmias que me aviltavam, com resignação e piedade pelos meus verdugos, fechei o ciclo das minhas dolorosas reencarnações na Terra, sentindo na fronte o ósculo do perdão da minha própria consciência..."

Matéria publicada no Jornal Mundo Espírita - abril/2004

JUDAS CONTINUA NA HISTÓRIA COMO TRAIDOR

O Papa Francisco presidiu, na tarde da Sexta-feira Santa em 2014, na Basílica Vaticana, a celebração da Paixão do Senhor, com o rito da Adoração da Cruz, que caracteriza esta celebração. Como habitual nesta ocasião, a homilia foi feita pelo pregador da Casa Pontifícia, Frei Raniero Cantalamessa.
“Estava com eles também Judas, o traidor.” A homilia do frei capuchinho partiu desta afirmação, frisando que a primeira comunidade cristã tem refletido muito sobre ele e que nós faríamos mal se não o fizéssemos o mesmo. Judas tem muito a nos dizer, destacou. O religioso lembrou que “Judas não tinha nascido traidor e não o era quando foi escolhido por Jesus; tornou-se! Estamos diante de um dos dramas mais obscuros da liberdade humana. Por que se tornou?” – perguntou.
Frei Cantalamessa recordou que em anos não distantes tentou-se dar a seu gesto motivações ideais, outros pensaram que Judas estivesse desapontado com a maneira em que Jesus realizou a sua idéia do “reino de Deus” e que quisesse forçá-lo a agir no plano político contra os pagãos.
Os Evangelhos falam de um motivo muito mais terra-terra – observou: o dinheiro. Judas tinha a responsabilidade da bolsa comum do grupo; na ocasião da unção em Betânia havia protestado contra o desperdício do perfume precioso derramado por Maria aos pés de Jesus, não porque se preocupasse pelos pobres, assinala João, mas porque “era um ladrão e, como tinha a bolsa, tirava o que se colocava dentro”(Jo 12, 6). A sua proposta aos chefes dos sacerdotes é explícita: “Quanto estão dispostos a dar-me, se vo-lo entregar? E eles fixaram a soma de trinta moedas de prata” (Mt 26, 15).
Mas por que maravilhar-se desta explicação e achar que ela é banal? Não foi quase sempre assim na história e não é ainda assim hoje em dia? Mamona, o dinheiro, não é um dos muitos ídolos; é o ídolo por excelência; literalmente, “o ídolo de metal fundido” (cf. Ex 34, 17), frisou o pregador da Casa Pontifícia.
Quem é, nos fatos, o outro patrão, o anti-Deus, Jesus no-lo diz claramente: “Ninguém pode servir a dois senhores: não podeis servir a Deus e a Mamona” (Mt 6, 24). O dinheiro é o “deus visível”, em oposição ao verdadeiro Deus que é invisível.
Mamona é o anti-Deus, porque cria um universo espiritual alternativo, muda o objeto das virtudes teologais. Fé, esperança e caridade não são mais colocados em Deus, mas no dinheiro. Ocorre uma sinistra inversão de todos os valores. “Tudo é possível ao que crê”, diz a Escritura (Mc 9, 23); mas o mundo diz: “Tudo é possível para quem tem dinheiro”. E, em certo sentido, todos os fatos parecem dar-lhe razão.
Citando a Escritura, Frei Cantalamessa lembrou que “o apego ao dinheiro é a raiz de todos os males”. Por trás de todo o mal da nossa sociedade está o dinheiro, ou pelo menos está também o dinheiro.
O que está por trás do tráfico de drogas que destrói tantas vidas humanas, a exploração da prostituição, o fenômeno das várias máfias, a corrupção política, a fabricação e comercialização de armas, e até mesmo – coisa horrível de se dizer – a venda de órgãos humanos removidos das crianças? E a crise financeira que o mundo atravessou e que este país ainda está atravessando, não é, em grande parte, devida à “deplorável ganância por dinheiro”, o auri sacra fames, de alguns poucos? Judas começou roubando um pouco de dinheiro da bolsa comum. Isso não diz nada para certos administradores do dinheiro público?
Mas sem pensar nesses modos criminosos de ganhar dinheiro, por acaso, já não é escandaloso que alguns percebam salários e pensões cem vezes maiores do que daqueles que trabalham nas suas casas, e que já levantem a voz só com a ameaça de ter que renunciar a algo, em vista de uma maior justiça social?
Como todos os ídolos, o dinheiro é “falso e mentiroso”: promete a segurança e, em vez disso, a tira; promete a liberdade e, em vez disso, a destrói, ressaltou Frei Cantalamessa. Após afirmar que o deus dinheiro se encarrega de punir, ele mesmo, os seus adoradores, o frei capuchinho recordou que “é possível trair Jesus também por outros tipos de recompensa que não sejam as trinta moedas de prata. Trai a Cristo quem trai a própria esposa ou o próprio marido. Trai a Jesus o ministro de Deus infiel ao seu estado, ou que, em vez de apascentar o rebanho apascenta a si mesmo. Trai a Jesus quem trai a própria consciência”.
O religioso franciscano observou que Judas tinha um atenuante que nós não temos. Ele não sabia quem era Jesus, considerava-o somente “um homem justo”; não sabia que era o Filho de Deus, nós sim.
O Evangelho descreve o fim horrível de Judas: “Judas, que o havia traído, vendo que Jesus tinha sido condenado, se arrependeu, e devolveu as trinta moedas de prata aos chefes dos sacerdotes e aos anciãos, dizendo: pequei, entregando-vos sangue inocente. Mas eles disseram: O que nos importa? O problema é seu. E ele, jogando as moedas no templo, partiu e foi enforcar-se” ( Mt 27 , 3-5).
Mas não julguemos apressadamente, disse o pregador da Casa Pontifícia. Jesus nunca abandonou a Judas e ninguém sabe onde ele caiu quando se jogou da árvore com a corda no pescoço: se nas mãos de Satanás ou naquelas de Deus. Quem pode dizer o que aconteceu na sua alma naqueles últimos instantes? “Amigo”, foi a última palavra que Jesus lhe disse no horto e ele não podia tê-la esquecido, como não podia ter esquecido o seu olhar.
O destino eterno da criatura é um segredo inviolável de Deus. A Igreja nos garante que um homem ou uma mulher proclamados santos estão na bem-aventurança eterna; mas de ninguém a Igreja sabe com certeza que esteja no inferno. Da mesma forma que procurou o rosto de Pedro depois de sua negação para dar-lhe o seu perdão, terá procurado também o de Judas em algum momento da sua via crucis! Quando da cruz reza: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23 , 34), não exclui certamente deles a Judas.
Então, o que faremos, portanto, nós? Quem seguiremos, Judas ou Pedro? – perguntou o religioso. Pedro teve remorso pelo que ele tinha feito, mas também Judas teve remorso, tanto que gritou: “Eu traí sangue inocente!”, e devolveu as trinta moedas de prata. Onde está, então, a diferença? Em apenas uma coisa: Pedro teve confiança na misericórdia de Cristo, Judas não! O maior pecado de Judas não foi ter traído Jesus, mas ter duvidado da sua misericórdia.
Se nós o imitamos, quem mais quem menos, na traição, não o imitemos nesta sua falta de confiança no perdão, exortou. Existe um sacramento no qual é possível fazer uma experiência segura da misericórdia de Cristo: o sacramento da reconciliação. Como é belo este sacramento! É doce experimentar Jesus como mestre, como Senhor, mas ainda mais doce experimentá-lo como Redentor: como aquele que te tira para fora do abismo.
Concluindo, o pregador da Casa Pontifícia recordou que Jesus sabe fazer de todas as culpas humanas, uma vez que nos tenhamos arrependido, “felizes culpas”, culpas que não são mais lembradas a não ser pela experiência da misericórdia e pela ternura divina da qual foram ocasião!